O relacionamento entre a sociedade e a Igreja do Amparo

24-09-2010 17:45

 Ao longo dos anos, a população de Teresina tem se mantido apegada a parâmetros religiosos e a demonstrações de fé a um ser superior. Morada de várias religiões e doutrinas, a capital parece ter ficado pequena para tantos templos e locais de manifestação dessas devoções, e algumas instituições antigas parecem ter se perdido no óbvio da tradicionalidade e talvez tenham caído em meio ao esquecimento de muitos teresinenses.

 

Localizada no centro da cidade, a paróquia de Nossa Senhora do Amparo é o marco inicial da construção de Teresina, onde foi a primeira igreja a se instalar e partir dela começou a criação da capital que conhecemos hoje.  Entretanto, indagando sobre a igreja à população que transita mesmo em ruas próximas à paróquia, é constatado o desconhecimento até mesmo sobre sua existência.

“Esse nome não me parece estranho, mas sendo sincero não sei lhe informar onde fica essa igreja. Acredito que seja aqui pelo Centro mesmo, ou então para os lados da Vila Operária”, declarou o estudante Júlio César Lima, respondendo se conhecia a Igreja Nossa Senhora do Amparo e se sabia informar seu endereço.

O pároco da Igreja Nossa Senhora do Amparo, padre José de Pinho, explica esse desconhecimento por parte da população. Segundo ele, o Centro de Teresina foi perdendo suas residências ao longo dos anos, dando espaço ao comércio e ao setor de serviços. Atualmente, é pequeno o número de famílias vizinhas do templo.

“Poucas pessoas moram atualmente no Centro, o que implica dizer que também diminuiu a quantidade de pessoas que residem próximo à igreja. O templo passou a ser frequentado por pessoas de outros bairros ou que tiveram de sair dessa região, que se comprometem em vir às missas e viver a palavra de Deus. Hoje, poucas pessoas conhecem a igreja do Amparo, deixou também de ser uma referência de localização”, pontua o sacerdote.

O esquecimento é constatado com maior ênfase entre os jovens, que com o passar dos anos, tiveram seus valores e prioridades modificados, algo inerente à época em que vivem, onde o consumo é sempre exaltado dentro e fora da juventude, mas bastante direcionada para essa faixa etária, deixando em planos abaixo o lado místico e religioso, que hoje é pregado em tão pequena escala dentro dessa parcela da sociedade.

“Hoje os jovens são muito visados do ponto de vista do consumo. Vão ao shopping e ficam ludibriados com todos aqueles produtos expostos, e acabam ‘endeusando’ esses bens materiais, que não lhe preenchem interiormente, deixando de lado a verdadeira devoção a Deus e seu próprio lado religioso, que completaria o vazio existente na vida de muitos jovens”, relata o padre, comentando ainda que, nos dias atuais, faltam exemplos valham a pena serem seguidos pela juventude.

Para o padre José de Pinho, é de se admirar que uma igreja localizada no Centro de Teresina, especificamente na Praça da Bandeira, endereço de órgãos públicos – Prefeitura Municipal, Coordenadorias do Estado, Receita Federal – e ainda movimentados comércios, sem falar no famoso Shopping da Cidade, esteja hoje tão desconhecida, mesmo com milhares de pessoas passando em frente ao templo todos os dias.

“Hoje a Igreja do Amparo é uma igreja de passantes, pessoas que vem ao centro e entram rapidamente para fazer uma oração, refletir, estar mais próximo do Pai. Elas deixam sua contribuição e vão embora, raramente se tornam fiéis assíduos às atividades do templo, não se cria um vinculo pastoral”, argumenta o padre José de Pinho.

Grupos que reúnem os fiéis com um interesse comum, como a Renovação Carismática Católica, Encontro de Casais com Cristo, Infância Missionária, Equipe de Cantos e Celebrações, entre outros, são formas de unir esse público que já é freqüentador e se compromete a participar regularmente das ações dentro da Igreja, e ainda são atrativos para que novas pessoas se interessem e passem a frequentar o templo.

De todo modo, a Igreja e suas atividades passam por um período de carência de visibilidade, que precisa ser amenizado junto à população. Antes mesmo do interesse único pela paróquia de Nossa Senhora do Amparo, especificamente, segundo o padre José de Pinho, há a falta de interesse generalizado por parte da população com relação à fé como um todo, algo que pode comprometer a religiosidade que conhecemos hoje, assim como aconteceu com a devoção de antigamente.